Indústria dos golpes é sofisticada e cresce rapidamente – 07/02/2025 – Mercado

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Edgar conheceu Rita no LinkedIn. Ele trabalhava para uma empresa de software canadense, ela era de Singapura e trabalhava em uma grande consultoria. Eles eram apenas amigos, mas conversavam online o tempo todo.

Um dia, Rita ofereceu-se para ensiná-lo a negociar criptomoedas. Com a ajuda dela, ele ganhou um bom dinheiro. Então, ele aumentou seu investimento. No entanto, depois que Edgar tentou sacar, ficou claro que o site de negociação de criptomoedas era falso e que ele havia perdido US$ 78 mil (R$ 450 mil). Rita, ao que parecia, era uma filipina mantida prisioneira em um complexo em Mianmar.

De maneiras diferentes, Edgar e Rita foram ambos vítimas do “pig-butchering” [“abate de porcos”], o golpe mais lucrativo em uma indústria global que rouba mais de US$ 500 bilhões (quase R$ 3 bilhões) por ano de vítimas em todo o mundo.

O abate de porcos, ou “sha zhu pan”, é uma gíria criminosa chinesa. Primeiro, os golpistas constroem um chiqueiro, com perfis falsos em redes sociais. Depois, escolhem o porco, identificando um alvo; criam o porco, passando semanas ou meses construindo confiança; cortam o porco, fazendo-o investir; e abatem o porco, espremendo “cada última gota de suco” dele, de sua família e amigos.

A indústria está crescendo rapidamente. Em Singapura, os golpes se tornaram o crime mais comum. A ONU diz que em 2023 a indústria empregava pouco menos de 250 mil pessoas no Camboja e em Mianmar; outra estimativa coloca o número de trabalhadores em todo o mundo em 1,5 milhão.

No podcast “Scam Inc” relatamos como um homem em Minnesota perdeu US$ 9,2 milhões e como um banco em uma área rural do Kansas faliu quando seu CEO desviou US$ 47 milhões para investir em criptomoedas, sob a tutela de uma mulher falsa online, chamada Bella. Ele também era um pastor de meio-período, e também roubou de sua igreja.

As fraudes na internet se comparam em tamanho e alcance à indústria de drogas ilegais. Exceto que, em muitos aspectos, é pior. Uma razão é que todos se tornam um alvo potencial simplesmente vivendo suas vidas.

Entre as vítimas que identificamos estão um PhD em neurociência e até mesmo parentes de investigadores do FBI cujo trabalho é acabar com os golpes. Manuais operacionais dão a pessoas como Rita instruções passo a passo sobre como manipular seus alvos explorando suas emoções.

É um erro pensar que o romance é o único gancho. Os golpistas miram todas as fraquezas humanas: medo, solidão, ganância, luto e tédio.

Outra razão pela qual as fraudes são piores que as drogas é que a indústria muitas vezes está fora do alcance da lei. No mundo físico, os abatedores de porcos trabalham em complexos que abrigam linhas de produção de golpistas e são uma mistura entre um campo de prisioneiros e uma cidade empresarial à moda antiga, com supermercados, bordéis e casas de jogos —bem como câmaras de tortura para trabalhadores que causam problemas. Parte dos lucros compra proteção de políticos e funcionários.

Nas Filipinas, uma cidadã chinesa chamada Alice Guo tornou-se prefeita de uma pequena cidade decadente e construiu um complexo de fraudes lá com cerca de 30 edifícios. Mais de US$ 400 milhões passaram por suas contas bancárias entre 2019 e 2024. No Camboja, Laos e Mianmar, o cibercrime é um pilar da economia. Estados de fraudes digitais provavelmente se tornarão ainda mais difíceis de lidar do que Estados narcotraficantes.

Os golpistas são igualmente elusivos no mundo online. Os sindicatos criminosos chineses que os operam não são máfias hierárquicas. Em vez disso, formam uma economia subterrânea de bicos. Um grupo pode se especializar em contatar alvos, outro em treiná-los para investir em criptomoedas e um terceiro em lavar o dinheiro roubado. A fratura digital da fragilidade humana é bastante escalável.

A última razão pela qual as fraudes são piores que as drogas é que são muito inovadoras. Criminosos usam malware avançado para coletar dados sensíveis dos dispositivos das vítimas. Mercados online comercializam ferramentas e serviços, incluindo domínios, software de inteligência artificial (IA) e instrumentos de tortura.

Criptomoedas permitem que criminosos movam dinheiro rapidamente e anonimamente para o mundo real. Independentemente de seus méritos, a desregulamentação das criptomoedas em andamento nos Estados Unidos lhes dará novas oportunidades.

A IA irá turbinar essa inovação. Mesmo hoje, apenas 15 segundos da voz de alguém são suficientes para produzir um clone que os criminosos usam para se passar por outra pessoa.

Um funcionário no escritório de Hong Kong da Arup, uma empresa de engenharia britânica, foi enganado a pagar US$ 25 milhões por uma videochamada com deepfakes de seus colegas, incluindo o chefe de finanças.

Ao combinar IA de mudança de voz e rosto com serviços de tradução e pilhas de dados roubados vendidos em mercados subterrâneos, os golpistas poderão atingir mais vítimas em mais lugares.

Criminosos também poderão usar análises para pesquisar grandes conjuntos de dados em busca de pessoas ricas, solitárias ou problemáticas que sejam alvos promissores.

As fraudes online serão ainda mais difíceis de conter do que o tráfico de drogas —e, em contraste com as drogas, a opção de legalização, regulamentação e tratamento não está disponível. A educação pode ajudar. Em Singapura, avisos aparecem no transporte público e durante transações online. Mas a polícia também deve mudar.

Para combater os golpistas, as autoridades devem criar suas próprias redes. Hoje, muitas forças policiais que dedicam enormes recursos para combater o tráfico de drogas tratam as fraudes como um incômodo e as vítimas como ingênuas.

Em vez disso, precisam trabalhar com bancos, bolsas de criptomoedas, provedores de serviços de internet, empresas de telecomunicações, plataformas de redes sociais e empresas de comércio eletrônico. Singapura estabeleceu um centro nervoso onde a polícia, bancos e empresas de comércio eletrônico podem rastrear e congelar dinheiro instantaneamente enquanto os golpistas movem o saque entre contas.

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Os países também precisam olhar além de suas fronteiras. Quando criminosos movem dinheiro e pessoas por muitas jurisdições, a máquina de aplicação da lei global não consegue acompanhar. Muitos chefes de golpes são da China continental e o Partido Comunista Chinês prende centenas de milhares de supostos golpistas a cada ano.

Nenhum país entende melhor a escala e sofisticação dos grupos criminosos. Em um momento em que Estados Unidos e China estão em desacordo, fraudes são uma área onde eles poderiam —e deveriam— trabalhar juntos para o bem comum.

Texto do The Economist, traduzido por Gustavo Soares, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

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