Blend chileno da Udurraga e malbec da Catena levam Oscar do vinho da América do Sul – 28/03/2025 – Isabelle Moreira Lima

Автор
7 Leitura mínima

Imagine uma edição do Oscar em que há um empate, há dois melhores filmes do ano. Foi assim o resultado do “Guia Descorchados”, que premia os melhores vinhos produzidos na América do Sul em seis países: Argentina, Chile, Brasil, Uruguai, Bolívia e Peru.

Da Argentina, um dos premiados é o malbec Catena Zapata Adrianna Vineyard Mundos Bacillus Terrae 2022, cujas uvas são cultivadas ao pé da cordilheira dos Andes, no norte do vale de Uco, a cerca de 1.400 metros de altitude e em solo predominantemente calcário. Assinado por Alejandro Vigil, um dos mais respeitados enólogos do mundo, é um vinho sem excessos: não passa por madeira, não é superconcentrado, não pesa. Não é supermaduro; ao contrário, traz notas de frutas mais ácidas, além de toques florais e herbáceos. Esse conjunto, para o guia, valeu 100 pontos. No Brasil, o vinho é importado pela Mistral, que vende a safra anterior, também de 100 pontos, por R$ 3.572,39.

Do Chile, também recebeu a pontuação máxima o Undurraga Altazor 2021, um blend de 94% cabernet sauvignon, 4% carignan e 2% carménère que vem da região de Pirque, a leste do Maipo, a 700 metros de altitude. A principal característica desse vinho é a elegância, ou seja, é uma bebida que passa aveludada pela boca, sem maiores arestas, fazendo salivar, o que é bastante diferente do que o Chile vinha fazendo nos últimos anos, mas retoma uma tradição de décadas atrás. A safra premiada já está esgotada no Brasil, mas é possível encontrar a 2022 em algumas lojas físicas da Wine.com.br, por volta de R$ 505.

Do Brasil, são as borbulhas que recebem as mais altas pontuações, sendo o grande campeão o espumante Casa Valduga Maria Valduga Nature N/V (R$ 549 na loja da vinícola), um corte de 80% chardonnay e 20% pinot noir, com 95 pontos. No processo de produção, o vinho fica em contato com as borras por 60 meses, o que lhe confere mais complexidade e cremosidade. A vinícola, tradicional do Vale dos Vinhedos, teve muitos espumantes com altas pontuações nesta edição e Eduardo Valduga foi eleito enólogo do ano.

O autor do guia, o crítico e jornalista chileno Patrício Tapia, sempre foi um entusiasta dos espumantes brasileiros, mas crítico dos nossos tintos, que já chamou de “muito ruins”. Em entrevista à coluna nesta semana, ele explicou: os vinhos de que não gosta vêm em boa parte da Serra Gaúcha, que tentava fazer tintos potentes e muito extraídos. Para ele, no entanto, a região tem uma vocação mais à la Champagne, que além dos espumantes mais famosos do mundo faz tintos leves, muito frescos, que não tentam emular a potência dos Bordeaux. “Creio que haja uma evolução na Serra Gaúcha e de seus produtores. Neste ano, encontramos um tannat da região que é um dos melhores do país”, afirma. Ele descreve esse vinho, o Belmonte Tannat 2023, de Farroupilha, como “puro suco de frutas ácidas para cordeiro”. Esse suco levou 93 pontos. Ainda não está no mercado, mas estará disponível na loja da vinícola por R$ 190.

Mas mais que essa chuva de pontos, o “Descorchados” vale como manual para entender a produção de vinho da América do Sul. São três volumes que vêm embalados numa caixa com rankings e mais rankings de vinhos, dos mais tradicionais (por estilo) até outros que são uma mão na roda para o aficionado sem dinheiro. Traz ainda informações sobre vinícolas, enólogos e rótulos específicos.

Minha parte favorita do guia são os cenários que Tapia desenha como introdução a cada volume, em que relata sobre o que há de mais marcante na produção corrente de cada país, os pontos mais altos e os principais desafios. Do Brasil, por exemplo, o crítico ressalta a expansão do mapa vitivinícola, com destaque para outro tinto de 93 pontos, o Sabina Syrah Seleção de Parcelas 2024 (R$ 209 na World Wine), feito na Serra da Canastra. A região Sudeste, essa sim, é vista pelo crítico chileno como capaz de fazer tintos mais voluptuosos.

Na conversa com Tapia, pedi que resumisse, em um tuíte, o que considera de mais importante de cada um dos países. Do Chile, ele destaca a diversidade. Da Argentina, a profundidade que o país alcançou ao diferenciar suas regiões. Do Uruguai, fala da produção surpreendente do lado atlântico. O Peru ainda precisa de energia e novos atores para a cena enológica brilhar. A Bolívia, sem dúvida, é o grande descobrimento. E, ao Brasil, dedicou mais que 144 caracteres:

“É uma caixa de surpresas. Alguns dos melhores espumantes da América do Sul estão aí, mas também há as novas regiões, a poda invertida (técnica de viticultura usada no Sudeste), o sul do Sul, que faz fronteira com o Uruguai, é muito interessante. Eu sempre digo que ser jornalista de vinhos na América do Sul é alucinante, porque gostamos de notícias e aqui há muitas, muitas notícias”.

Vai uma taça? Para quem se animou a conhecer mais do guia e provar alguns dos 4.000 vinhos avaliados ali, vale ir ao lançamento, que acontece no Rio e em São Paulo. Os produtores promovem degustações em seus estandes. O lançamento da 27° edição será realizado nos dias 1° de abril em São Paulo, no espaço Villagio JK, e no dia 3 de abril no Rio de Janeiro, no VillageMall, na Barra da Tijuca. O guia, editado pela Inner, custa R$ 295 e os ingressos são vendidos a R$ 350 em Adega Online.

Compartilhe este artigo
Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *