Um dos negócios mais complexos da história já estava em andamento. E então, na tarde de segunda-feira (10), Elon Musk chegou. Um consórcio liderado por Musk anunciou que pagaria precisamente US$ 97,4 bilhões (R$ 561,5 bi) pela OpenAI, a startup de IA (inteligência artificial). Mas a recompensa da disputa não é o negócio operacional —é o veículo sem fins lucrativos que atualmente gerencia a empresa OpenAI.
O rival de Musk, Sam Altman, CEO da OpenAI, está no meio de uma negociação complicada para fundir as entidades sem fins lucrativos e com fins lucrativos em uma única estrutura. Tal simplificação é ostensivamente necessária para atrair mais dezenas de bilhões de investimentos necessários para construir e comercializar o grande modelo de linguagem de IA. Uma rodada de captação de recursos atual está definida para avaliar a OpenAI em US$ 260 bilhões (R$ 1,4 tri).
Em tempos mais simples, há cerca de uma década, a distinção entre sem fins lucrativos e com fins lucrativos da OpenAI era um aceno idealista, visando garantir que a IA fosse gerida de forma responsável e “para o benefício da humanidade”.
Mas a tecnologia acabou sendo tão boa que a estrutura estava prejudicando a oportunidade de criação de valor. Para complicar a questão, a Microsoft havia investido US$ 13 bilhões (R$ 74,9 bi) na OpenAI, mas seu fluxo de lucros estava estruturado para ser limitado a um retorno pré-especificado.
A forma e o financiamento da nova oferta de Musk e seus coinvestidores —dinheiro, ações, algo mais— ainda são desconhecidos. E o valor que ele atribuiu é algo como três vezes maior do que o esperado para ser pago pela parte sem fins lucrativos da OpenAI.
A empresa com fins lucrativos da OpenAI é estruturada como uma sociedade de responsabilidade limitada que não vem com deveres fiduciários tradicionais anexados. O braço sem fins lucrativos, que tem entre os membros do conselho o economista Lawrence Summers e o negociador Adebayo Ogunlesi, arrecadou mais de US$ 100 milhões (R$ 576,5 mi) em doações e deve manter sua missão.
A rivalidade operática contínua entre Musk e Altman permanece um pano de fundo importante. Musk esteve envolvido na OpenAI em sua concepção e pode ganhar dinheiro quando a parte sem fins lucrativos for comprada. Ele também tem sua própria empreitada de IA, a xAI, o que torna sua obsessão com a OpenAI —incluindo um processo anteriormente movido sobre a reestruturação— algo curioso.
Dada a condição de LLC e sem fins lucrativos das entidades da OpenAI, elas não são obrigadas a se envolver com a oferta de Musk, ou qualquer outra que possam receber, se não desejarem. Altman, por sua vez, respondeu de forma mordaz que estaria disposto a comprar o X de Musk por US$ 9,74 bilhões (R$ 56,1 bi), um décimo da oferta de Musk pela OpenAI e uma fração dos US$ 44 bilhões (R$ 253,6 bi) que Musk pagou pelo Twitter, em publicação na rede social X.
Chegar a um acordo sobre a reestruturação da OpenAI nunca seria simples. A invasão de Musk, no mínimo, agora colocará um holofote brilhante nas negociações e, especificamente, em quão dura será a queda de braço pelo negócio sem fins lucrativos.