Potiguar sócia de Musk no Tesla Diner teme ódio nas redes – 08/04/2025 – Rede Social

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Deu no The New York Times. “Elon Musk se prepara para entrar no ramo de restaurantes”, anunciava reportagem do jornal americano em 21 de março. Dias depois, a publicação voltava à carga com “Tesla encontra um chef para seu restaurante retrô-futurista em Los Angeles”.

Desde que as duas notícias foram publicadas, a brasileira Clija Chait, 34, viu-se no olho do furacão diante da revelação de que a Zero2One é a empresa que irá operar o Tesla Diner, antigo drive-in que está sendo remodelado para a era dos carros elétricos.

Nascida no Rio Grande do Norte e radicada nos Estados Unidos desde 2016, Clija é casada com Bill Chait, um dos nomes mais badalados da cena gastronômica na Califórnia.

Ela é sócia do marido na empresa que se associou à Tesla para criar o menu e tocar o dia a dia do futuro restaurante que Musk definiu no X em 2023 como um lugar onde “Grease encontra Jetsons com Supercharging”.

Na obra no Santa Monica Boulevard se destaca o prédio redondo, que parece uma nave espacial, ladeado por duas telas de cinema ao ar livre, conjugado ao restaurante e à estação de recarga da Tesla.

O outro sócio do negócio é o chef André Greenspan, especialista em queijos e autor do livro “The Great Grilled Cheese”. “Os chefs que trabalham com a gente são sócios e não empregados, para que sintam que estão construindo o sonho deles também e não apenas o nosso”, diz Clija.

Só que o sonho de estar associado a uma gigante automotiva, que saiu na frente na corrida da mobilidade elétrica e é comandada por um dos homens mais ricos do mundo, começou a virar pesadelo.

A associação do trio com o Tesla Diner é anterior à nomeação de Musk pelo presidente Donald Trump para o controverso Departamento de Eficiência Governamental (Doge), quando o bilionário tomou uma série de medidas impopulares que suscitaram a ira contra ele e a marca.

A brasileira acompanha com preocupação protestos contra concessionárias e vandalismos de veículos da Tesla. Alguns chegaram a ser incendiados e pichados com suásticas. Na Califórnia, as vendas do popular modelo Tesla 3 caíram 36%.

O marido chegou a ser chamado de nazista nas redes sociais, mesmo Chait sendo de origem judaica. A irracionalidade e o tom dos ataques fizeram com que Clija se ausentasse temporariamente do Instagram.

A associação com a Tesla se tornou pública graças a anúncios de emprego nos quais a Zero2One apareceu pela primeira vez como empresa de gastronomia por trás do futuro restaurante de Musk. Detalhe: o nome da contratada remete a “Zero to One: Notes on Startups, or How do Build the Future”.

O best-seller de Peter Tiel, cofundador do PayPal, foi recomendado pelo CEO da Tesla e da Space X “por oferecer ideias completamente novas e refrescantes sobre como criar valor no mundo”.

Como é de praxe nesse tipo de acordo, os sócios da Zero2One assinaram um contrato de confidencialidade que os proíbe de falar sobre o novo projeto.

Bill Chait entrou na concorrência com as credenciais de antigo sócio do Sprout LA, definido como “o grupo de restaurantes mais influente de LA”, segundo o Los Angeles Times. O restauranter criou conceitos e teve participação em points gastronômicos badalados como République, Bestia e Otium.

A encrenca que os sócios de Musk no Testa Diner têm pela frente pode ser medida pela repercussão de uma fala do chef Walter Manzke, do République, misto de restaurante e padaria localizado em La Brea, do qual Chait foi fundador e investidor.



Eu saí da mídia social. Não aguento ver comentários de gente que deseja nossa morte, falência e torce para que nossos projetos não sejam bem-sucedidos

“Ela [Margarita, sua mulher e sócia] me disse outro dia que quer comprar um Tesla, então posso dizer de que lado ela está”, declarou Walter ao New York Times, ao considerar empolgante a ideia de Musk abrir um restaurante.

Em tempos de polarização foi o suficiente para o République ser cancelado nas redes sociais. Alvo de intensas críticas, o chef publicou esclarecimentos no Instagram.

“A citação sobre a possibilidade de comprar um Tesla foi simplesmente sobre explorar opções de veículos elétricos, não uma declaração política”, escreveu Manzke, em resposta a posts irados da clientela.

Tal repercussão negativa acendeu o alerta vermelho para a brasileira. Clija já antevê o que poderá ocorrer no momento da inauguração do Tesla Diner, prevista para os próximos meses.

“Estão todos à flor da pele. Muita gente não gosta do que está acontecendo no novo governo dos Estados Unidos e generalizam para tudo. Então, o desejo destas pessoas agora é destruir tudo o que se conecta com essa administração.”

Ela sabe que é difícil trafegar nesse campo minado. “Em todos os nossos projetos sempre olhamos para o lado empresarial. Não tem lado político. São business”, pontua, na torcida para que as coisas se acalmem.

Em um cenário onde a opinião pública e o ativismo online podem impactar a reputação e o sucesso de negócios, a ligação com uma figura controversa como Musk gera reações negativas por parte de consumidores e da comunidade gastronômica.

CEO da rede de padarias Tartine, que nasceu em São Francisco e tem 14 filiais, Dar Vasseghi tratou de esclarecer publicamente qual a participação de Bill Chait no negócio.

“Bill Chait não faz parte da equipe de gestão da Tartine e não ocupou o cargo de presidente da empresa pelos últimos cinco anos”, declarou o executivo ao The San Francisco Standard, um dia após a segunda reportagem do The New York Times. “Ele é um dos muitos investidores da empresa. Tartine não tem nada a ver com Tesla, exceto que ambas as palavras começam com a letra ‘T.'”

Esses movimentos, segundo Clija, fazem parte do jogo. “Eu só tenho preocupação de até onde o nível de ódio pode chegar. Enquanto for verbal, não tem problema. Numa democracia cada um tem a sua opinião.”

Clija é sócia do marido em outros empreendimentos, entre eles o Fanny’s, que funciona dentro do Museu do Oscar, e o Mian Taste, de cozinha asiática, com sete restaurantes entre Califórnia, Texas e Havaí.

Apesar do potencial risco de boicotes, Clija se diz empolgada com os novos projetos e fala com orgulho da trajetória de sucesso do marido, com quem se casou em 2017.

Eles se conheceram em São Paulo e o namoro engatou após uma reunião no restaurante Mocotó, do chef Rodrigo Oliveira. O casal viria a se tornar investidor do Caboco, negócio que o brasileiro abriu em Los Angeles em 2022, mas fechou logo depois em meio à crise pós-pandemia.

A comida sertaneja do Mocotó remete às origens de Clija, nascida em Currais Novos (RN) e criada pelos avós em uma fazendo até os dez anos.

“Minha avó, que chamo de mãe, é uma cozinheira supertalentosa, que sempre me inspirou”, diz ela. “A gente vivia numa escassez de alimento, de tudo. Ela tinha de secar peixe no sol, fazia pipoca com areia peneirada em panela de barro.”

A neta relata com nostalgia a técnica incrível de dona Ana Maria, 84, que deixava o fogo esquentar bastante para então colocar o milho de pipoca sobre a areia e fazê-lo pipocar.

“Minha jornada na gastronomia é um reflexo de aprendizado constante, raízes nordestinas e a busca incessante de inovação”, diz a ex-garçonete, que trancou a faculdade de administração e fez um MBA na prática ao lado do marido e mentor.

“Bill é uma das pessoas mais inteligentes que já conheci. Ele se apaixonou por mim e por esse meu desejo de viver e de aprender. Ele ama ensinar. Fazer essa imersão na gastronomia com ele é maravilhoso. A história da gente tem muito dos negócios. Às vezes, somos mais sócios do que marido e mulher.”

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